Texto
Encontro do dia 19 de outubro (pleonasmo)
Prima Vera
Quando ouvi mamãe dizer que a primavera chegaria no dia seguinte, me animei, imaginando as flores que cobririam o jardim, os beija-flores chegando sorrateiros e o meu bodoque que voltaria a ser usado.
Naquela manhã, acordei na expectativa de ver solidificadas as imagens que construíra em minha fértil cabeça de menino de 8 (oito) anos. Tal foi minha decepção ao ver entrando pela porta da frente, uma figura um tanto quanto bizarra. Então percebi que a primavera, da qual mamãe falara, era na verdade a prima Vera, uma mulher conhecida por sua oratória impecável.
Logo de início, percebi o seu olhar de desdém e soberba, ao me ouvir dizer “mamãe, eu vi ela no seu álbum de recordações, entrando pra dentro de sua antiga casa”. Percebi que passou por seu rosto uma contração de dor. Imaginei que estivesse com dor de barriga.
Já no dia seguinte, notei que a dor não vinha da barriga, mas do ouvido, pois ao me ouvir dizer” que iria pescar um peixe na lagoa Lago Azul durante o piquenique com comida e bebida e, que à tardinha, iria subir pra cima da montanha”, a mulher agarrou os cabelos e disse em alto e bom tom que era impossível conviver com tanta insipiência para com o vernáculo de nossa língua pátria. Não entendi o que ela dizia, mas soube na hora que não era nada de bom.
Mamãe pôs-se em minha defesa chamando prima Vera para a realidade de meus poucos oito anos de idade, mas pouco adiantou, já que a irredutível megera não dava ouvidos a nada que fosse menos que Rui Barbosa.
Marcelle Marques, Ana Lúcia, Luciene
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